Crescemos em alma e rugas.
Os brancos dos nossos cabelos
que se mostram tímidos em mim
e em você tentam se livrar das tintas, inutilmente
denunciam isso.
Erramos de caminhos tantas vezes
julgando ser o certo.
Meu Deus, quantos atoleiros e espinhos
quantos troncos caídos, quantas ciladas
e ainda assim, juntos, conseguimos encontrar a trilha
que nos trouxe até essa casa
que hoje abriga nossos sonhos.
Nossos sonhos ?
Onde estão aqueles que tínhamos
quando então meu corpo exibia o vigor
que o teu conheceu, se apaixonou
e tantas vezes procurou ?
Agora minhas costas doem e seu pijama
oculta teu corpo do meu desejo.
As imagens e informações que chegam pela nossa tv 21 polegadas
distraem mais do que o jogo dos nossos dedos
no escuro de nossa cama.
Sob o edredon de nossas noites cotidianas
meus pés ainda procuram os seus (quase sempre frios)
e os encontram já adormecidos e amigos
para apenas ....estarem juntos.
Nossos sonhos....Quais são seus sonhos?
Acho que não sei mais !
Parece que não têm mais o mesmo teor
Acho que deixamos de os contar.
As vezes um pesadelo
ou algum sonho absurdo é partilhado...
Mas o que esperamos da vida?
Talvez não seja diferente da louça
que sobre a pia , no escorredor, seca sozinha !
para depois, dali mesmo ser usada de novo
e de novo, e de novo....
Meus pais estão distantes e velhos
vivos ainda , mas velhos e sem esperança de nada.
Meus parentes ausentes e sem dar notícias
nem sei mais onde estão ...
Eu, não sou mais do que eu mesmo e nossa família,
e você, geradora de vida e amor, se desilude dia-a-dia
com o fruto que cresce e independente mente em busca
do que nossas mãos não podem dar ....
Nos abrigamos nesse mundo que criamos
como um vidro de guardar biscoitos
do qual não sabemos como sair
e sem a presença do ar, nos protege do mofo do mundo
da fome de vida
da possibilidade da aventura externa....
Olhamos através desse vidro, para fora,
desejamos experimentar esse novo que enxergamos
sorver o ar de novos espaços....
Mudar . Mas qual !
Os anos voam velozes
passando sob nossos pés cansados
que envelhecem tentando
e caminham por estradas cada vez mais íngremes
beirando o abismo da solidão, beirando o risco
descortinando a paisagem que não nos pertence
e prosseguimos
coligindo tristezas que não mostramos
agregando sentimentos que não partilhamos
e criando segredos inconfessáveis
no íntimo dos nossos corações.
Passaram-se vinte e cinco anos....
Fazemos bodas de algo....que deveria ser comemorado
como tantas vezes fizemos.
Grandes festas, risos , bebedeiras , amigos por perto
pássaro de prata com vontade de voar....para um porto certo.
Bodas de uma coleção de momentos,
pequenos momentos que se somam em ....vinte e cinco anos!
Iluminada pelo brilho baço da tela do computador
uma lágrima me escorre pela face em desabalada
vontade de chegar ao coração
enquanto escrevo nessa tarde cinzenta e fria.
Eu , aqui, contando o que me vai
pelo espaço da alma
Você pela casa, companheira de jornada dessa nave vazia!
MMartins
15 de novembro de 2007
15 de novembro de 2007
2 comentários:
Belíssimo texto...sentimento em cada verso, cada estrofe...lindo poema...toca o coração...parabéns
Parabéns Miro!
Encantada com sua sensiblilidade...
Me vi dentro deste texto...
E lágrimas também me vieram aos olhos.
Felicidades... sucesso!!
Renata Machado
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