sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ONIPRESENTE



Pra que essa linda lua cheia lá fora , se
não posso vê-la refletida em seu olhar?
Pra que essa noite quente e deliciosa , iluminada assim....
se essa luz não te ilumina perto de mim?

Pra que esse calor em meu corpo
se não te tenho perto pra aquecer?
Pra que esta paisagem tão linda, romântica,
se não tenho você pra compartilhar?
Pra que este calor dentro de mim,
se não posso a você dar prazer?

Pra que esta casa tão grande, com todo esse jardim?
essas casas que temos e nos abrigam....
nos separam dessa lua que , onipresente , não sente
nossa dor.
não sabe desse amor

Então, fria e calculista, se apresenta linda,
alheia à angustia que vivemos.
Beira à crueldade ela ser assim
numa noite como essa é inevitável e desigual
contemplando nossos olhares românticos
estando longe, não consegues acatar essa regra tão banal
coisa que não se explica
afronta nosso penar de forma quase carnal
Essa lua lá fora...desnecessária
com sua beleza maldita !


MMartins/MMoreno
novembro 2007
noite de lua cheia

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

MELANCOLIA


Melancolia
Amante caprichosa
que vem afagar meus pensamentos
e me encontra triste....triste
como um pai
ao lado do leito do filho morto.....

Tem nas mãos um presente.
Dá-me como se fosse um agrado
uma pequena jóia em formato de gota
uma lágrima brilhante
que tem no centro, nacarados
trinta anos de receios
meias-palavras , medos e mentiras
contadas de diversas maneiras a mim mesmo
e agora desce-me pela face
sem nenhum sentido prático
percorrendo o tortuoso caminho assim , a esmo !

MMartins
21/11/2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

TEMPO AO TEMPO

"Fiquei aqui lembrando dos detalhes daquele dia, há vinte e cinco anos, seis meses e dezessete dias exatos atrás, quando cheguei aqui, vindo lá do tempo que era meu naquele tempo, e encontrei tudo assim, coisa por coisa.
Veja só que vai e vem, cada coisa que vi naquele dia virou palavra que contei, para depois então ir virando coisa outra vez, até ficar tudo de novo cada coisa no seu canto, que nem assim como está agora.
Deve ser bem por esse motivo que há quem ache que tem que se dar tempo ao tempo, eita povinho pra gostar de achar, esse."

"A maquina"

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

PROCLAMAÇÃO DE BODAS

Passaram-se vinte e cinco anos...
Crescemos em alma e rugas.
Os brancos dos nossos cabelos
que se mostram tímidos em mim
e em você tentam se livrar das tintas, inutilmente
denunciam isso.

Erramos de caminhos tantas vezes
julgando ser o certo.
Meu Deus, quantos atoleiros e espinhos
quantos troncos caídos, quantas ciladas
e ainda assim, juntos, conseguimos encontrar a trilha
que nos trouxe até essa casa
que hoje abriga nossos sonhos.

Nossos sonhos ?
Onde estão aqueles que tínhamos
quando então meu corpo exibia o vigor
que o teu conheceu, se apaixonou
e tantas vezes procurou ?
Agora minhas costas doem e seu pijama
oculta teu corpo do meu desejo.

As imagens e informações que chegam pela nossa tv 21 polegadas
distraem mais do que o jogo dos nossos dedos
no escuro de nossa cama.
Sob o edredon de nossas noites cotidianas
meus pés ainda procuram os seus (quase sempre frios)
e os encontram já adormecidos e amigos
para apenas ....estarem juntos.

Nossos sonhos....Quais são seus sonhos?
Acho que não sei mais !
Parece que não têm mais o mesmo teor
Acho que deixamos de os contar.
As vezes um pesadelo
ou algum sonho absurdo é partilhado...

Mas o que esperamos da vida?
Talvez não seja diferente da louça
que sobre a pia , no escorredor, seca sozinha !
para depois, dali mesmo ser usada de novo
e de novo, e de novo....

Meus pais estão distantes e velhos
vivos ainda , mas velhos e sem esperança de nada.
Meus parentes ausentes e sem dar notícias
nem sei mais onde estão ...
Eu, não sou mais do que eu mesmo e nossa família,
e você, geradora de vida e amor, se desilude dia-a-dia
com o fruto que cresce e independente mente em busca
do que nossas mãos não podem dar ....

Nos abrigamos nesse mundo que criamos
como um vidro de guardar biscoitos
do qual não sabemos como sair
e sem a presença do ar, nos protege do mofo do mundo
da fome de vida
da possibilidade da aventura externa....

Olhamos através desse vidro, para fora,
desejamos experimentar esse novo que enxergamos
sorver o ar de novos espaços....
Mudar . Mas qual !
Os anos voam velozes
passando sob nossos pés cansados
que envelhecem tentando
e caminham por estradas cada vez mais íngremes
beirando o abismo da solidão, beirando o risco
descortinando a paisagem que não nos pertence
e prosseguimos
coligindo tristezas que não mostramos
agregando sentimentos que não partilhamos
e criando segredos inconfessáveis
no íntimo dos nossos corações.

Passaram-se vinte e cinco anos....
Fazemos bodas de algo....que deveria ser comemorado
como tantas vezes fizemos.
Grandes festas, risos , bebedeiras , amigos por perto
pássaro de prata com vontade de voar....para um porto certo.
Bodas de uma coleção de momentos,
pequenos momentos que se somam em ....vinte e cinco anos!

Iluminada pelo brilho baço da tela do computador
uma lágrima me escorre pela face em desabalada
vontade de chegar ao coração
enquanto escrevo nessa tarde cinzenta e fria.
Eu , aqui, contando o que me vai
pelo espaço da alma
Você pela casa, companheira de jornada dessa nave vazia!

MMartins
15 de novembro de 2007

SOBRE O CASAMENTO....

AMOR E ÓDIO NO CASAMENTO

O estado conjugal é....uma imagem completa do céu e do inferno que podemos experimentar nesta vida.
Richard Steele

Os amigos são menos do que perfeitos. Aceitamos suas imperfeições e nos orgulhamos do nosso senso de realidade. Mas, quando se trata de amor, teimosamente nos agarramos às ilusões – visões conscientes e inconscientes de como as coisas deviam ser.
Quando se trata de amor – amor romântico, amor sexual e amor conjugal - , precisamos aprender outra vez, com dificuldade, a desistir de todos os tipos de expectativas.

O amor romântico da adolescência, diz o analista Otto Kernberg, é o “começo normal e crucial” do amor adulto. Mas muitos terminam a adolescência antes de enterrar o amor adolescente.
E muitos trazem de volta a paixão você-é-tudo-para-mim, não-posso-viver-sem-você. Os passeios ao luar. As viagens à lua. E, apeasr do fato de ser ou não possível conservar esse amor durante todos os anos da vida, ele pode lançar sua sombra sobre tudo o que vier depois.

Freud, tratando do amor, distingue o amor sensual, que procura a gratificação física, e o amor caracterizado pela ternura. Freud descreve também a superestimação – ou idealização – da pessoa amada. Ela também faz parte do amor sexual romântico.
Além disso, Freud nos lembra que nem mesmo o relacionamento amoroso mais profundo pode evitar a ambivalência, e nem o casamento mais feliz pode evitar uma certa porção de sentimentos hostis.
Sentimentos de ódio.

“ A textura sedosa do elo matrimonial” , escreve William Dean Howells , “suporta uma tensão quotidiana de insultos e transgressões, aos quais nenhum outro relacionamento humano poderia ser sujeito sem ser lesado.”
A Boa ressalva é que , às vezes, o elo entre marido e mulher é mais forte do que qualquer dano que possam causar.
A má resalva é que nenhum casal de adultos consegue provocar mais danos um ao outro do que marido e mulher.

O psicanalista Israel Charny, num ousado estudo sobre o casamento, contesta “ o mito de que as dificuldades conjugais são, em grande parte, o destino de pessoas ‘doentes’ ou ‘imaturas’”. Ele argumenta que “empiricamente não se pode negar....que a grande maioria dos casamentos está sujeita a profundas tensões destrutivas, visíveis ou não”. E ele sugere uma redefinição do casamento comum , médio, normal como um relacionamento inerentemente carregado de conflito e de tensão, cujo sucesso exige
“ um perfeito equilíbrio entre amor e ódio”.
As tensões e conflitos da vida de casados podem começar com a morte das expectativas românticas, encantadoramente descritas no poema “Les Sylphides” , onde, sonhando com flores e com rios murmurantes, cetim e árvores dançantes, dois amantes se casam.

...Então eles se casaram – para ficar mais tempo juntos –
E descobriram que jamais estavam muito tempo juntos.
Separados pelo chá da manhã,
pelo jornal da tarde,
pelos filhos e pelas contas dos fornecedores.

Quando acordava durante a noite, ela sentia segurança
na respiração cadenciada do marido, mas imaginava se
na verdade valia a pena, e para onde
o rio tinha ido
e onde estavam as flores.

Nós todos medimos nossos sonhos, comparando-os às realidades. Nós todos talvez tenhamos tentado alcançar um pássaro de plumagem rosada, nos céus da poesia, e acabamos com um papagaio na gaiola da sala de estar, num subúrbio qualquer.

Levamos para o casamento uma infinidade de expectativas românticas. Às vezes, também visões de míticos êxtases sexuais, e impomos à nossa vida sexual muitas outras expectativas, muitos outros ‘ devia ser”, que o ato quotidiano do amor não consegue realizar. A terra devia tremer. Nossos ossos deviam cantar. Fogos de artifício deviam explodir. Devíamos alcançar o paraíso, ou um fac-símile razoável. Nós nos desapontamos.
Porém , mesmo quando a paixão é febril e todos os sistemas funcionam com perfeição, é difícil manter esses picos de excitação. E os casais acabam descobrindo que , depois de algum tempo, o sexo não é mais tão sexy.

Levo mais um copo d’agua para as crianças.
Passo o creme de hormônio no rosto.
Então , depois de terminar a isometria
recebo meu marido com um abraço caloroso.

Com minha camisola de flanela de mangas compridas
e meias (porque meus pés estão sempre gelados),
engulo tranqüilizantes para minhas extremidades nervosas
e pastilhas de antialérgico para a coriza.

Nosso cobertor elétrico azul, regulado ao máximo.
Nosso despertador vermelho, regulado para as sete e meia.
Digo a ele que devemos muito no armazém.
Ele diz que seus dois melhores ternos estão sujos.

No ano passado, dei um Centauro no aniversário dele
(Eles me prometeram que ele se transformaria em meio homem,
meio animal.)
No ano passado, ele me deu algo negro e rendado.
(Eles prometeram a ele que eu ia ficar louca de desejo,
no mínimo.)

Mas , em lugar disso, os rolos do meu cabelo tilintam no travesseiro
e a unha comprida do pé dele me arranha.
Ele se levanta para aplicar um pouco de Chap Stick.
Peço-lhe que me traga dois Bufferin.

Oh, em algum lugar deve haver lindos boudoirs
com lençóis Porthault e dosséis e chicotes.
Ele caça leões na África nos fins de semana.
Ela tem noventa centímetros de cadeiras.

Seus olhos se encontram sobre os copos de conhaque.
Ele passa os dedos pelos cabelos dela, penteados por Kenneth.
Os filhos estão na outra ala com a governanta.
O som de violinos paira no ar.

Na nossa casa ouço água pingando.
Está chovendo, e nunca nos lembramos de tampar a goteira.
Ele apanha o pano de chão, e eu, o balde.
Concordamos em tentar novamente na próxima semana.

Trecho do livro de Judith Viorst
“Perdas necessárias”

domingo, 11 de novembro de 2007

NO RUMO CERTO ?




O que cantarei quando então
esse brilho em seu olhar
já for meu velho conhecido?

O que cobrirá seu corpo lindo
além daquele romântico vestido
que tantas vezes
foi generoso comigo
e aguardou , jogado num canto
pacientemente pelo final
dos nossos momentos de amor ?

Que cor terá
nossa tardes de domingo
em inverno frio e rotineiro?

Terei eu ainda os ímpetos de velho timoneiro
lutando contra as vagas
em desabalada tempestade
seguindo, ainda assim o rumo certo?

Terei ainda essa doce sensação
de, mesmo tão, tão distante
percebê-la presente e absolutamente perto ?

O mar que envolveu nossos corpos
A liberdade exposta
o sol
a natureza do que somos
nos dando a resposta.
As músicas que ouvimos
e a sessão-coruja sob o edredon onde nos amamos....

Resistirão ao passar das horas, dos meses e dos anos ?

MMartins
09/11/2007
No reino Tão Tão distante.

sábado, 10 de novembro de 2007

TOLO INSETO



Cheio de receios e medos
me assusto com essa vontade
de transformar em poesia
o que vejo nos claros do seu olhar....

Pensar em alamedas alaranjadas
pelas flores das Tipuanas
que têm por único trabalho na primavera
enchê-las de cor
parece comum à voz de um poeta

Mas fazê-lo por alguém
à quem , unicamente, se deve respeito
e nem sequer um traço de emoção
parece avesso....

Arremesso
em vidraça alheia
tolo inseto
enredado na teia
do livre pensar
e no trato inocente de se jogar
sem intenções expoentes...

Apenas o registro literário
dessa vontade maldita !

Dessa coisa que invade
o peito e não se aquieta
até que possa ser dita .

MMartins
São paulo
08/11/2007

sábado, 3 de novembro de 2007

CARTA DE INTENÇÕES


Estaremos envelhecendo a partir de agora
que você está crescendo...
Trataremos de aprender com teu dia-a-dia
para poder te ensinar com sabedoria
um pouco da vida que chega aos teus pés.


Tentaremos de todas as formas
todas as fórmulas
pra que teu sorriso seja sempre franco.

Por muitos anos viveremos em função
do teu bem estar e procuraremos ajustar
nosso modo de vida ao que te fará bem.

Decifraremos os mistérios, os meandros
as incógnitas e as belezas infinitas
das pequenas coisas só pra te mostrar.

Aprenderemos juntos
a te formar uma pessoa íntegra sensível.
Zelaremos por teu sono
já que teus sonhos só a ti pertencem;
Para que cada amanhecer
seja melhor em tua vida de menina.

Correremos contra o tempo
contra o vento
Conheceremos as águas
As nuvens
As luas
e as marés....
Resolveremos as charadas da vida à cada dia
tentando lhe mostrar a importância das coisas
desde as folhas até a raiz...

Só então teremos o sentimento da missão cumprida
e envelheceremos em paz
Enquanto você cresce feliz.


“Carta de intenções”
MiroMartins
31/01/1992