segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

VOLTAR PARA CASA



Não tenho mais um lar

A muitos, muitos anos não tenho um.

Sinto-me, no espaço que habito, como se fora um hóspede

Que não faz a menor diferença estar ali...

Volto , após um dia de trabalho

Para o lugar onde tenho algumas roupas limpas

Uma cama e um chuveiro,

o computador onde trabalho um pouco mais

e onde me sinto querido e importante

Para alguns amigos virtuais.

Que sensação deliciosa era saber

que me esperavam ao pé da escada

Contavam os minutos para minha chegada

”O papai vai chegar”...

Hoje, não me esperam e, se chego ou não

As caras são as mesmas e nada é importante

A não ser o fato de eu ter trazido o pão.

Essa sensação de desamor pesa-me nos ombros

como um fardo que carrego e a cada passo me parece mais pesado

Estou ali, porque ali há um teto

Pago por ele e não posso pagar outro, ainda não.

Ali não é mais meu lar

Minha filha cresceu, mora em outra cidade

E volta como quem vem para uma pensão.

A mulher que tive

Só me tem indiferença e rejeição

Estou ali como um abat jour no canto da sala

Como se fora mera decoração....

Um silêncio escorre triste pelas paredes

E por entre nossos olhares que não se procuram

nem vão se encontrar

Há uma espécie de bolor sentimental crescendo por todos os lados

Dessa casa que já não é mais o meu lar.

MMartins

Janeiro de 2010

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